20/01/2017 Por JP Resende

O “mimimi” sobre a “geração mimimi”

Parece que agora o mundo tem um novo vilão:
Trump os Millennials.

Eles não respeitam limites, se acham especiais, querem tudo imediatamente e nunca estão satisfeitos no trabalho… Certo?

Bom, na nossa empresa, 90% do nosso quadro é composto por millennials (eu incluso) e somos a 2a empresa do Brasil, com os colaboradores mais satisfeitos.

Mas então, me enganaram sobre os Millennials?

Recentemente, depois do vídeo do Simon Sinek, esse assunto veio a tona com força total e o número de reclamações, recriminações e generalizações sobre como os millennials são “problemáticos” cresceu ainda mais. O vídeo realmente é muito bom e é quase impossível não se lembrar de exemplos reais das situações que o Simon menciona.

Obviamente, não dá para negar que, de fato, os Millennials — pessoas nascidas no início de 1980 em diante, hoje com 25 a 35 anos — são diferentes das demais gerações. Assim como a GenX é diferente dos Boomers, que por sua vez são diferentes de qualquer outra geração anterior.

Porém, se você olhar de perto, verá que não há nada de surpreendente aqui… É a história se repetindo.

A medida que a tecnologia transforma a sociedade, muda-se a forma como as pessoas se relacionam entre si; se relacionam com seus bens; se relacionam com seus trabalhos…

Não estou dizendo que está tudo lindo e ninguém tem direito de questionar esta geração, mas se você está aí reclamando dos Millennials, aqui vai uma outra notícia ruim para você: com a evolução exponencial das tecnologias, a sociedade será transformada cada vez mais rápido, ou seja, haverá transição de gerações em um período de tempo cada vez menor. Em outras palavras, se você continuar se estranhando com as novas gerações, continuará #chateado.

Fato: empresas tem dificuldade de lidar com a geração dos Millennials e em diante

O motivo principal de eu estar escrevendo este texto hoje, foi uma conversa com outros empreendedores, onde acabaram me perguntando o que eu achava desta geração nova que estava chegando (millennials e pós-millennials, estes últimos também conhecidos como Generation Z).

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Nesta conversa foram citados exemplos que os incomodavam muito, especialmente ligados ao “abuso da liberdade” que às vezes aconteciam na empresa. Não foi a primeira vez que me incluíram neste tipo de discussão, de modo que para mim está bastante claro que existe uma dificuldade real aí.

O problema é que, na maioria das vezes, a conclusão destas discussões é que a culpa é da “geração dos millennials”… ao invés de atribuírem a coisas mais pragmáticas, como problemas no recrutamento, treinamento, alinhamento de expectativas, onboarding, etc.

E aí, tudo se complica ainda mais… Quando você bota a culpa em uma “geração”, acabou. Não há nada que se possa fazer, pois você não tem controle sobre isto.

Naturalmente, lidar com uma transição de gerações, não é tão natural assim

Vamos mudar um pouquinho de contexto aqui, só para dar um exemplo.

Vamos falar de relacionamentos…

  • Primeiro os casamentos eram “ARRANJADOS” pelos pais por interesses políticos/patrimoniais…
  • Depois as pessoas “CORTEJAVAM” para iniciar um possível relacionamento…
  • Depois passaram a “FICAR” logo no primeiro encontro…
  • Depois veio o TINDER.

Será que sua avó e seu avô, talvez até seus pais, não achavam um absurdo quando você saía a noite e “ficava” com alguém? Eles eram de uma geração diferente. Eles cortejavam.

Agora, talvez, os pais estejam achando um absurdo os apps de relacionamento e como é fácil conseguir um encontro… certo? (DISCLAIMER: não sou usuário destes apps, sou casado! :P)

Ter aversão aos novos comportamentos das novas gerações é a primeira reação comum da maioria das pessoas. Só que, pelo menos eu, nunca vi ninguém da minha idade cortejando ninguém… Em outras palavras… não há caminho de volta.

Assim como…

  • Usar o celular na mesa será cada vez mais comum… Isso enquanto a própria mesa não se tornar um monitor conectado à internet.
  • Procurar um trabalho que faça sentido pra você, ao invés de um trabalho que só sirva para ganhar dinheiro, também vai se tornar mais comum…
  • Entender o trabalho como parte e não como uma “pausa” na sua vida, que acontece de segunda a sexta, 9h as 18h… também será mais comum.
  • Esperar respostas mais rápidas em TODAS as situações? Idem…

A maior parte dos comportamentos de uma nova geração, vem pra ficar, quer você goste deles, ou não.

Porque ninguém está falando do lado bom da coisa?

Como eu disse, 90% da nossa equipe é formada por millennials (até 35 anos) e eles são incríveis. Em minha experiência trabalhando com millennials algumas coisas muito positivas saltam aos olhos:

  • Eles não estão obcecados por estabilidade e abraçam mudanças mais rápido. Eles se motivam em fazerem coisas diferentes, em mudarem de áreas, tentar coisas novas. Para startups que estão em constante crescimento e mudança, isto é incrível. Para cargos públicos… nem tanto.
  • É muito mais fácil conseguir o entendimento deles sobre senso de urgência e a importância da velocidade, do que nas gerações anteriores.
  • Eles são bons comunicadores e estão habituados a trabalhar colaborativamente e com diversas conversas abertas em paralelo, sem ficarem completamente malucos.
  • Eles abraçam tecnologias novas como ninguém, o que ajuda a empresa a manter-se atualizada, enxergar tendências e ter excelentes insights.
  • Eles conseguem trocar de contexto mais rápido, ou seja, se algo mudar, é mais fácil para eles pararem de fazer aquilo e começarem algo completamente diferente.

Eu acredito que toda empresa se beneficiaria de ter profissionais com estas características no seu time. É só uma questão de enxergar o outro lado da moeda e tentar não generalizar.

Generalizar é um problema

Millennials se tornaram a desculpa perfeita para problemas de recrutamento, produtividade e cultura das empresas.

Nem todos os millennials tem estes comportamentos extremos que são frequentemente criticados. Cabe a você recrutar bem, e se por ventura trouxer alguém que não demonstre fit com a cultura da empresa, é melhor para os dois lados que eles encerrem logo os laços.

Não há porque manter alguém na empresa se você já sabe que aquela pessoa não conseguirá crescer e se desenvolver ali. É uma perda de tempo para ambos e uma falta de respeito com a pessoa.

Quando ali, no último print, um deles perguntou diretamente a mim como eu lidava com isto, contei a eles a minha forma de ver as coisas, que é mais ou menos a seguinte…

1) Aceitar a realidade. Os millennials são a maior work force de todos os tempos e, se você não souber trabalhar com eles, quem sairá perdendo é você.

2) Ajustar. Pelo fato de eu e meu sócio sermos millennials (a ponta de cima!), nossa cultura sempre foi muito receptiva para essa geração e, entendendo o que essas pessoas valorizam, é possível fazer pequenos ajustes na organização (sem distorcer cultura/valores/propósito) para tornar este ambiente ainda mais atraente para este tipo de profissional. Alguns exemplos: se eles valorizam muito o crescimento rápido, então faça feedbacks constantes e reconheça/promova com mais frequência, mesmo que sejam saltos menores por promoção.

3) Parar de chorar sobre esta geração e ajudá-los a se desenvolver.

Sobre este último item, vou compartilhar aqui um e-mail que enviei para toda a empresa, no 1o dia útil de 2017, antes mesmo do assunto ser mais debatido em cima do vídeo do Simon.

Que nosso 2017 seja incrível e que possamos crescer JUNTOS neste ano, usando a Hotmart e nossa comunidade de Troopers como plataforma para aprendermos muito e nos desenvolvermos como pessoas e profissionais. Um ano maravilhoso para cada um de vocês 🙂

Um abraço,

JP

===== MENSAGEM “TEXTÃO” OPCIONAL – Leia ou Ignore conforme achar melhor =====

Dois dias atrás era 2016. Hoje é o primeiro dia útil de 2017 e, se você desconsiderar as festas que ocorreram neste meio tempo, e somente olhar em volta, verá que tudo está exatamente como você deixou em 2016. Este incrível fenômeno acontece porque, na visão do universo, não existem datas e por isto ele é incapaz de mudar as coisas quando viramos de ano. Estas mudanças, portanto, devem ser feitas por nós mesmos. Eu realmente gostaria de ajudar cada um de vocês a crescer, se tornar cada dia melhor no que faz, chegar cada dia mais perto de onde gostaria de estar, porque sei que isso é o que vai te dar energia e motivação para continuar fazendo um trabalho incrível. Podem contar comigo para isso.

Olhando agora com um foco maior no lado profissional, alguns de vocês já estão mais avançados, já estão há mais tempo construindo uma carreira e já entendem quais são os próximos passos e para onde querem ir. Ao mesmo tempo, temos uma empresa jovem, e muitos de vocês estão na sua 1a ou 2a experiência profissional. Esta nova geração de profissionais, especificamente, tem sido muito criticada pelos “especialistas” de plantão, mas onde eles só conseguem ver “mimimi e imediatismo”, eu vejo potencial. Sim, para quem é um pouco mais velho e já experimentou por mais tempo o “mundo real” no mercado de trabalho, salta mais aos olhos a parte que se pode criticar, do que o potencial desta nova geração.

Por isto, vou deixar aqui para vocês algumas coisas que, na minha opinião, podem ser úteis para a caminhada de cada um, não só neste ano, mas nos próximos também. Talvez o que vou dizer não seja útil para parte de vocês, mas se servir para pelo menos um, já terá valido meu tempo. Só para lembrar, é só uma opinião, se não fizer sentido para você, siga sua intuição… ela é ainda mais importante.

Saiba o que você quer para este ano
Se isto parece óbvio, é porque é mesmo, mas é impressionante a quantidade de pessoas que começam o ano e não tem a menor ideia do que querem para si mesmas. Pode ser qualquer coisa: visitar um parente distante? Perder 5kg? Trocar de carro? Ser promovido? Fazer as pazes com alguém? Se ajudar você, tente separar em um papel algumas áreas da sua vida e busque enxergar se há algo importante que você gostaria ou precisaria fazer a respeito naquela área.

Saiba o que você precisa saber para chegar onde você quer chegar
Todos vocês já devem saber o quanto eu valorizo o óbvio, e aqui está mais um exemplo. Se você quer algo, precisa saber o que tem que fazer para conseguir. Antes disso, tudo que você tem é esperança de que algo mágico vai acontecer. Quais são os passos? Quanto tempo vai levar? Quem precisa estar envolvido? O que você precisa aprender? O que você precisa “desaprender”?

Saiba que para poder fazer o que você ama, terá que fazer coisas que não são tão legais assim
Ninguém deveria passar a vida fazendo coisas que não gosta, mas achar que você só irá fazer coisas legais é uma grande ilusão. Na Hotmart, na sua casa, ou em qualquer lugar, você terá que se acostumar a fazer coisas que nem sempre serão as mais legais do mundo, mas que são importantes. Se você estiver trabalhando em uma área que você gosta muito, eventualmente, você irá fazer coisas muito legais e que não só terão importância naquele contexto, como também serão muito divertidas de fazer.

Saiba que desenvolver uma carreira ou uma empresa, leva mais tempo que mandar um tweet
Quem não quer uma carreira meteórica? Todo mundo quer e, de fato, podem surgir algumas exceções em que isso aconteça. Normalmente, as exceções surgem onde há uma interseção muito grande de “perfil profissional x habilidade acima da média x necessidade da empresa x necessidade do mercado x timing certo”, quando tudo isto acontece, alguém entra em um ciclo de “carreira meteórica”. Isso é a regra? Não. De fato, é bem raro. Você precisa entender que, para construir uma carreira (ou uma empresa), levam-se anos e não meses. Óbvio que estar em uma empresa que cresce rápido ajuda vocês a também crescerem rápido. Mas, desta parte estamos cuidando bem, então não se preocupem.

Se, ainda assim, você quiser alguns “hacks” para ajudar a sua evolução de carreira, aqui vão alguns que eu sempre usei para mim mesmo:

– Esteja sempre muito alinhado com a cultura e os objetivos do negócio.
– Torne-se uma referência técnica.
– Mantenha-se atualizado como referência técnica.
– Converse com muita gente, especialmente fora do seu círculo padrão de convivência.
– Pratique a empatia, tente entender como o outro pensa e o que é importante para ele.
– Sempre que possível, ajude.
– Não assuma que as coisas já funcionam do melhor jeito e SEMPRE tente melhorar.
– Estude outras equipes e empresas, veja como eles resolveram os problemas da sua área e proponha melhorias.
– Entenda exatamente em que você é bom e em que você é fraco.
– Em meio a uma equipe de alta performance, trabalhar para reforçar as coisas em que você é naturalmente bom não é diferencial, é obrigação. O diferencial será melhorar as partes em que você é fraco.
– Desenvolver sua capacidade de comunicação é INDISPENSÁVEL para ir mais longe, mais rápido.

Saiba da sua própria importância em mudar as coisas que você gostaria que fossem mudadas
Nada vai mudar se você não for atrás. Este ano, independente de quais forem seus objetivos pessoais e profissionais, muita coisa vai aparecer para te atrapalhar a atingir estes objetivos. Muita coisa! Você pode reclamar, ficar #chateado, ou você pode entender que o mundo é assim e que existem variáveis que você não controla e que vão interferir em tudo que você quiser fazer. Só existe uma variável 100% sob o seu controle, que é você mesmo. Nunca perca isso de vista.

Saiba perguntar “Por que?” várias vezes, antes de julgar
Entender que você sempre estará errado é libertador. Especialmente para mim que, diariamente, me encontro em situações onde tenho que decidir algo em um cenário onde TODAS as opções são ruins, foi muito importante perceber que é impossível acertar sempre. Mais importante ainda, foi perceber que a mesma regra vale para pessoas em volta de mim. Elas também não vão acertar sempre. Quando algo sair diferente do que você gostaria, quando alguém fizer algo que você não gosta, quando você fizer algo que você mesmo não gosta, tente perguntar POR QUE aquilo aconteceu…. Mas não pare no primeiro porquê. Quando tiver a primeira resposta, pergunte por que novamente. Faça isto até você entender o que realmente causou aquilo. As coisas vão ficar mais fáceis de entender e até de prevenir/consertar depois.

Troopers, mais uma vez, foi muito bom passar 2016 com vocês e que 2017 possa ser ainda melhor para todos 🙂

Abs,

JP

Na posição de empresa, como lidar melhor com essa geração?

Primeiramente tenho que dizer que a Hotmart já nasceu no meio desta geração, então não se trata de um caso de uma empresa antiga tentando se adaptar a uma geração muito nova. Se este for o seu caso, talvez algumas destas ideias façam menos sentido. Porém, se o seu caso é de uma empresa jovem, mas que está tendo dificuldades de lidar com os Millennials, vejo que o caminho passa por algumas destas ideias a seguir…

1) Antes de mais nada, aceite a realidade.

2) Entenda que esta geração é incrível, que possui habilidades únicas. Jogue fora os pré-conceitos.

3) Não entre no mimimi, sobre a “geração mimimi”.

4) Não responsabilize uma geração por problemas que podem também estar ligados a recrutamento e cultura.

5) Tenha certeza que eles entendem a missão da empresa e entendem PORQUE o trabalho deles é importante no cumprimento daquela missão.

6) Saiba exatamente o perfil de profissional que você quer e encontre formas de entender se candidatos na sua empresa possuem fit com sua cultura.

7) Recrute com foco em personalidade e cultura. Treine a parte técnica. Observe bem e você verá que os comportamentos criticados dos millennials também existem em outras gerações. No final, o importante continua sendo recrutar certo, independente de geração.

8) Tenha um processo de onboarding bem feito. Reforce as expectativas, os principais pontos da cultura e se possível, coloque um “padrinho” (alguém que já tenha absorvido 100% a cultura) para acompanhar o novato.

9) Entenda que algumas atividades terão menos fit com essa geração. Exemplo: sabe aquela área da sua empresa que todo mundo sabe que já deveria ter sido automatizada, mas você insiste em colocar pessoas para executarem aquela tarefa chata e repetitiva, onde não há nenhum aprendizado, ou flexibilidade envolvida? Não coloque um millennial para fazer isto. Ou, se fizer isto, tenha consciência que ele(a) não irá durar tanto tempo ali.

10) Aceite que você terá não só que ensinar técnica, mas ajudar no desenvolvimento pessoal destes jovens. Isto é trabalho extra? Antigamente não tinha que fazer isto? Bom… agora tem.

11) Dê metas e garanta que eles saibam o que precisam fazer para batê-las. Garanta também que eles entendam as consequências para eles mesmos, para o time, para a empresa e para os clientes; de atingirem, ou não atingirem as metas.

12) Como mencionei anteriormente, crie uma prática constante de feedback e se fizer sentido na sua organização, tente reconhecer/promover com mais frequência, mesmo que não sejam promoções estratosféricas. Isto mostra quem está no caminho certo para a empresa toda.

13) Aceite que nem sempre uma contratação vai dar certo e será necessário desligar pessoas. Você não precisa agradar todo mundo, há pessoas que realmente não vão funcionar dentro da sua empresa… E nem por isto elas são ruins. Só não servem para a sua empresa, naquele momento.

14) Reforce os BONS EXEMPLOS da sua cultura. Além das formas tradicionais de reconhecimento (bônus por performance, promoções, etc), na Hotmart temos uma premiação anual dos maiores representantes de cada um dos nossos 9 mantras. Isso dá referências para as pessoas se espelharem internamente.

15) Entenda que, independente se você acha esta geração melhor, ou pior que as anteriores, isto realmente não é o ponto da discussão, pois esta é simplesmente a realidade atual e você terá que encará-la uma hora, ou outra.

Se eu fizer tudo isto nunca mais terei problemas com Millennials?

Achou mesmo? Sempre há um desafio em gerir pessoas, não importa de qual geração elas sejam. Problemas vão surgir, problemas serão resolvidos. E quando os problemas vierem, use-os para aprender e melhorar a organização e os processos como um todo.

Uma coisa é fato… Não atribuir problemas a fatores que ficam fora do seu alcance vão te ajudar muito. Se você culpar uma geração, ou o governo, ou o mercado, sobrará pouca margem de manobra e adaptação para você resolver os problemas que surgirem.

As pessoas levam tempo demais para aceitarem mudanças e mais tempo ainda para aceitarem a realidade. Algumas vezes, pode ser tarde demais. Espero que você esteja no timing certo.

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