02/01/2017 Por JP Resende

Crenças moldam empresas

Aqui no San Pedro Valley é comum empreendedores procurarem uns aos outros para um café, ou para fazerem uma visita a um escritório com o objetivo de trocar experiências e algumas vezes discutir algum desafio específico que está acontecendo.

Quando me procuram, em grande parte destas conversas, estes fundadores me perguntam sobre cultura organizacional… Apesar de eu não acreditar em uma fórmula mágica para criar uma cultura incrível, existem algumas coisas que são determinantes e que vão acabar refletindo na cultura da empresa. Dentre estas coisas, estão as suas crenças.

Não é tão fácil saber quais são as suas reais crenças…

Se eu te contar minhas crenças, provavelmente você achará que pelo menos algumas delas fazem sentido para você também e talvez até pense que, por fazer sentido, você também tenha aquelas crenças.

Porém, apesar de parecer, não é tão fácil saber quais são as suas reais crenças. Não basta fazer sentido. Para entender se aquilo realmente é uma crença enraizada em você, é necessário saber se você está disposto a fazer sacrifícios e concessões em virtude daquilo. Algumas vezes você precisa passar por situações que pressionam suas crenças para saber se elas realmente estão lá, ou se apenas são coisas que “fazem sentido” para você…

Hoje quero compartilhar três crenças que acabaram moldando a cultura da Hotmart.

Clientes nunca vão amar a empresa, se a equipe não amá-la antes

A minha premissa é bastante simples: se as pessoas amarem trabalhar na empresa, elas vão querer se dedicar mais, serão mais felizes, falarão para os outros e vão se empenhar para que a empresa continue prosperando. Elas vão se importar. E isso será refletido desde na hora de lidar com um cliente, até na hora de entregar um produto. Se elas amarem a empresa, elas se sentirão realizadas e ficarão por mais tempo na empresa, se tornando cada vez melhor em sua função e este acúmulo de expertise ao longo do tempo irá se traduzir em qualidade e velocidade em tudo que formos fazer.

Então a próxima pergunta é: como fazer as pessoas amarem a empresa?

A resposta é óbvia, assim como quase tudo que fazemos. Nós nos importamos com as pessoas e elas se importam com a empresa. O se importar vai desde pequenas coisas (como perks), até iniciativas maiores, como eventos internos de integração, troca de experiências e alinhamento de metas; verba de treinamento e educação; construção de um plano de bonificação estimulante e, uma estrutura bastante horizontal onde as pessoas tem bastante autonomia e acesso a qualquer um da empresa.

O motivo pelo qual esta crença exige sacrifícios, é porque ela demandará mais investimentos em pessoas do que a imensa maioria das empresas está disposta a fazer.

Gente extraordinária gosta de trabalhar com gente extraordinária

Sempre dei o máximo de mim e procurei fazer o melhor em todo trabalho que fiz até hoje, mesmo nos momentos em que eu não estava empreendendo. Independente de eu estar, ou não, gostando do que estivesse fazendo naquele momento, era a minha assinatura que estaria ali e meu senso de responsabilidade me impede de entregar algo no qual eu acredite não ter dado o melhor de mim. Da mesma forma, acredito que muita gente comprometida a ser o melhor possível, também quer trabalhar com gente do mesmo tipo.

Profissionais bons, preocupados em performar, não gostam de trabalhar no mesmo time de pessoas que fazem corpo mole, que reclamam de tudo, que só sabem dar desculpas. Pessoas boas querem trabalhar ao lado de pessoas que elas admirem e que possam aprender e compartilhar com elas.

O oposto também é verdadeiro… pessoas acomodadas gostam de trabalhar em ambientes confortáveis, que não os pressionem, ou incentivem a crescer, ou a entregar um resultado acima da média; um resultado extraordinário. É muito difícil um profissional que está pilhado e com muita energia para fazer acontecer, conseguir manter-se em um lugar, onde ninguém está interessado em fazer muita coisa, em melhorar o que está ao seu redor e evoluir. Ou este profissional vai sair dali rapidamente, deixando a legião dos acomodados para trás, ou ele vai amargar uma frustração muito grande.

Por este motivo, precisamos estar em uma busca interminável pelas melhores pessoas e precisamos, o quanto antes, liberar as pessoas que não funcionam bem na empresa para que elas possam buscar uma oportunidade que tenham mais a ver com o perfil, ou os planos de carreira delas.

A razão pela qual esta crença exige sacrifícios, é que haverá vezes em que você terá que dispensar pessoas queridas na empresa, mas que por algum motivo não estão performando ou, com o passar dos anos, pararam de performar no nível dos demais por algum motivo que seja. Nunca é fácil fazer isto.

Deixe o mestre executar sua maestria

Para fazer uma empresa crescer e funcionar bem, precisamos de pessoas muito boas. Se as pessoas são verdadeiramente muito boas, elas precisam poder demonstrar com toda liberdade e autonomia o melhor de sua capacidade. Se elas quiserem tentar algo novo, mudar algum processo, fazer algum experimento, deixe que elas o façam pelo menos em uma escala menor. É daí que surgem as inovações e os saltos de eficiência.

Porém, se você precisa ficar interferindo o tempo todo, ensinando como as pessoas devem fazer o seus respectivos trabalhos, vale a pena tentar entender se aquela é realmente a pessoa certa para te ajudar naquele momento, ou se há algum tipo de treinamento adicional que você precisa oferecer para capacitar as pessoas daquela posição. Se nem assim funcionar, provavelmente você tem a pessoa errada.

A partir do momento que se passa a interferir muito na execução de alguém que é um mestre naquilo que faz, as coisas passam a não funcionar tão bem quanto poderiam. Sendo um fundador você tem a visão do todo e para onde a empresa deve ir, porém, em um nível mais micro, é necessário confiar nos seus especialistas, ou isto irá limitar sua velocidade de crescimento.

Nós criamos uma cultura de muita autonomia e não há como ter isto, sem deixar que o mestre execute sua maestria.

Assim como as demais, esta crença também exige sacrifícios e concessões. Algumas vezes, para um líder, pode ser agoniante “perder o controle” sobre determinada atividade e entregar 100% de autonomia para alguém executar aquilo. Além disto, uma cultura de autonomia, também quer dizer uma cultura onde a organização está disposta a arcar com alguns erros enquanto as pessoas tentam, por conta própria, fazerem coisas novas e inovarem.

No final, tudo se resume a ter pessoas muito boas à sua volta. E quando eu digo “pessoas muito boas”, não estou falando só de gênios, intra-empreendedores e rockstars fora da curva. Estou falando de gente que não necessariamente tem o QI do Einstein, ou a oratória do Obama. Estou falando de gente com vontade de fazerem as coisas funcionarem.

Gente alinhada com nossos valores e mantras.

Gente que não se conforma e quer constantemente ver a empresa melhorando, evoluindo, dia a dia. Gente que entende que cada pequena melhoria feita em sua área de atuação no trabalho, se acumula com a melhoria de cada outra pessoa, lá nas suas respectivas áreas, e ao longo de semanas, meses e anos, todo aquele conjunto se torna cada vez melhor e coloca a empresa mais perto de onde ela quer chegar.

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